sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Feriadão e Finados - D. Demétrio Valentini

Neste início de novembro vivemos um final de semana emblemático. Ele serve de divisor de águas entre a tradição de longa data e a modernidade imposta pela globalização avassaladora. Depende de como este final de semana é encarado.

Para alguns é um feriadão a mais, para ser aproveitado da melhor maneira possível, de preferência na praia, para esquecer os problemas e aproveitar o que a vida tem de bom.

Para outros, é o momento tradicional de lembrar os falecidos, visitar o cemitério, rezar pelos “entes queridos”, no “dia de finados” que a tradição lhes reserva com respeito e devoção.

Alguns poucos conseguem ir mais longe. Além de finados, celebram “todos os santos”, como manda a liturgia, estabelecendo assim a visão harmônica que a fé cristã oferece, integrando dimensões do destino humano que parecem contrastantes, mas que o mistério de Cristo ilumina e concilia.

Assim a fatalidade da morte, lembrada pelos finados, acaba se compondo bem com a certeza da ressurreição, simbolizada pelos santos. A perspectiva final da vida humana recebe um desfecho motivador, e integrador de todas as dimensões de nossa existência.

A obsessão de viver com intensidade o momento presente, sem relacioná-lo com o passado que pode lhe explicar a origem, nem com o futuro que pode lhe indicar o rumo, expõe a vida humana à precariedade de suas limitações.

A vida, que se quer viver com tanta voracidade, fica exposta ao perigo da banalização. Os exageros do álcool, e outros excessos, ultrapassam os limites da responsabilidade. Ficam criadas as condições para os acidentes que ceifam vidas, na maioria das vezes jovens e em plena exuberância de seus desejos de viver, que assim ficam frustrados para sempre. A extensão desta fatalidade é mensurada pelas cifras que no final de cada feriadão as autoridades do trânsito fornecem, numa liturgia que já se tornou indispensável. Fica esquecida a sábia advertência de São Paulo: “trazemos este tesouro em vasos de argila!”.

O feriadão acaba sendo reflexo do cotidiano da vida das pessoas. Quando faltam referências transcendentes, a vida fica exposta à precariedade dos seus impulsos. Se eles não são iluminados por valores que os conduzem, ficam sem critério de orientação.

Este o drama atual, que os professores experimentam diante dos alunos, os pais sentem diante dos filhos, e a própria Igreja vivencia diante de sua missão evangelizadora. Como oferecer razões de viver, para impregnar a vida com verdadeiras motivações, que levem à sua plena realização, como Cristo nos convida a fazer?

Celebrar o dia de finados não é deixar de viver com intensidade. Ao contrário, é acolher o mistério da vida em sua plenitude, integrando já agora o que parece contradizer a vida, como nos revela o mistério pascal de Cristo. Trata-se de compreender que a fé cristã não vem cercear a vida. Ao contrário, vem abrir as portas de sua plena realização.

A fé vem ao encontro dos anseios humanos, e se mostra muito coerente com eles. Já humanamente vislumbramos horizontes longínquos, que convidam a ultrapassar os limites da existência humana. Sentimos como é bom viver, como é harmonioso o universo, e como nele somos acolhidos. Já esta vida desperta o desejo de viver para sempre.

Toda a mensagem de Cristo se volta para nos garantir este projeto de vida plena. “Eu vim para que todos tenham vida, e vida em abundância” (Jo.10,10). “ Na casa de meu Pai há muitas moradas...Quero que onde eu estiver, estejais vós também” (Jo.14,2-3). Por sua vez S.Paulo, refletindo a convicção dos primeiros cristãos, afirma com esperança: “Se morremos com Cristo, com ele viveremos” (Rom.6,8).

Neste feriadão, deixemos entrar com suavidade e persistência a luz da fé cristã, com o bálsamo de consolo e de esperança que ela traz, tanto para nós como para os falecidos. E sintamos desde já a alegria de ver-nos incluídos na assembléia dos santos, para a qual Deus nos convida a participar desde agora!


Por CNBB

Comemoração de todos os fiéis defuntos

Neste dia ressoa em toda a Igreja o conselho de São Paulo para as primeiras Comunidades Cristãs: "Não queremos, irmãos, deixar-vos na ignorância a respeito dos mortos, para que não vos entristeçais como os outros que não tem esperança" ( 1 Tes 4, 13).

Sendo assim, hoje não é dia de tristezas e lamúrias, e sim de transformar nossas saudades, e até as lágrimas, em forças de intercessão pelos fiéis que se estiverem no Purgatório contam com nossas orações.

O convite de oração feito por nossa Mãe Igreja fundamenta-se na realidade da 'comunhão dos santos' seus filhos, onde pela solidariedade espiritual dos que estão inseridos no Corpo Místico, pelo Sacramentos do Batismo, são oferecidas preces, sacrificios e Missas pelas almas do Purgatório. No Oriente, a Igreja bizantina fixou um sábado especial para orações, enquanto no Ocidente as orações pelos defuntos eram quase geral nos mosteiros do século VII; sendo que a partir do Abade de Cluny, Santo Odilon, aos poucos o costume se espalhou para o Cristianismo, até ser tornado oficial e universal para Igreja, através do Papa Bento XV em 1915, pois visava os mortos da guerra, doentes e pobres.

A Palavra o Senhor confirma esta Tradição pois "santo e piedoso o seu pensamento; e foi essa a razão por que mandou que se celebrasse pelos mortos um sacrifício expiatório, para que fossem absolvidos de seu pecado" (2 Mc 2, 45). Assim é salutar lembrarmos neste dia, que "a Igreja denomina Purgatório esta purificação final dos eleitos, que é completamente distinta do castigo dos condenados" (Catecismo da Igreja Católica).

Portanto, a alma que morreu na graça e na amizade de Deus, porém necessitando de purificação, assemelha-se a um aventureiro caminhando num deserto sob um sol escaldante, onde o calor é sufocante, com pouca água; porém enxerga para além do deserto, a montanha onde se encontra o tesouro, a montanha onde sopram brisas frescas e onde poderá descansar eternamente; ou seja, "o Céu não tem portas" (Santa Catarina de Gênova), mas sim uma providencial 'ante-sala'.

"Ó meu Jesus perdoai-nos, livrai-nos do fogo do Inferno. Levai as almas todas para o Céu e socorrei principalmente as que mais precisarem! Amém!"


Por Canção Nova